Esteroides anabolizantes podem promover uma série de efeitos colaterais quando, que se manifestam de forma mais agressiva quando se usa doses suprafisiológicas, o que é inevitável para indivíduos saudáveis que desejam melhora de composição corporal, aumentando massa muscular e reduzindo percentual de gordura. Entre alguns dos efeitos colaterais mais comuns estão acne, queda de cabelo, ginecomastia, retenção de água, aumento da pressão arterial, virilização em mulheres. Além desses efeitos indesejáveis e facilmente perceptíveis, existem uma série de outros efeitos colaterais invisíveis, que são alterações metabólicas e hormonais detectáveis apenas por exames laboratoriais.
O presente artigo pretende esclarecer quais são as alterações bioquímicas mais significativas esperadas quando se usa esteroides anabolizantes. Algumas dessas alterações são facilmente reversíveis após a interrupção do uso, enquanto outras podem levar longos meses se nenhuma medida de recuperação for tomada.
O hemograma de usuários esteroides costuma apresentar elevações principalmente no número de eritrócitos, na hemoglobina e no hematócrito. Isso acontece porque esteroides androgênicos aumentam a eritropoiese (produção de glóbulos vermelhos), e alguns usuários são mais susceptíveis a esse efeito do que outros, principalmente homens mais velhos. Um hematócrito elevado (policitemia) é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares e pode aumentar o risco de eventos trombóticos graves incluindo embolismo e acidente vascular cerebral (AVC). Esse é um risco maior para usuários que ficam muito tempo on fire.
O perfil lipídico é facilmente afetado pelo uso de esteroides anabolizantes, e mais agressivamente pelos esteroides 17 alfa-alquilados que podem provocar grandes reduções nas concentrações de HDL (colesterol bom) e aumento nas concentrações de LDL (colesterol ruim). É muito comum ver usuários de esteroides com HDL abaixo de 10-20 mg/dl quando abusam de drogas 17 aa. Um perfil lipídico tão alterado não é um fator de risco cardiovascular no curto prazo, mas o uso prolongado de esteroides combinado com um grande desequilíbrio na razão LDL/HDL e CT/HDL com outros fatores de risco (homocisteína, hematócrito, hipertensão arterial, hipertrofia cardíaca etc) pode ser um agravante para desenvolvimento de doenças cardiovasculares em usuários de esteroides.
Alterações nas enzimas hepáticas também são comuns em usuários de esteroides anabolizantes, mas geralmente não oferecem um grande risco. As transaminases TGO (AST) e TGP (ALT) apresentam concentrações um pouco acima dos valores de referência em muitos usuários de esteroides, e os esteroides 17 aa podem promover maiores elevações quando abusados e usados por períodos prolongados. Pequenas elevações nessas enzimas são comuns pela lesão muscular causada pelo treinamento resistido e são verificadas em associação com grandes elevações na enzima CK (creatinoquinase). A análise de GGT é mais distintiva em casos de disfunção hepática. A atividade da GGT é maior nos casos de obstrução biliar pós-hepática e intra-hepática. Fosfatase alcalina geralmente não é necessária num primeiro momento.
O sistema endócrino masculino também é muito afetado pelo uso de esteroides androgênicos. Em mulheres as alterações são mais sutis e promovem efeitos diferenciados. Nos homens ocorre supressão das gonadotrofinas LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo estimulante), secretadas pela hipófise e responsáveis respectivamente pela produção de testosterona e pela espermatogênese. A inibição da secreção de LH e FSH ocorre pelo mecanismo de feedback negativo causado pelo excesso de androgênios, estrogênio e prolactina. Com a inibição das gonadotrofinas a testosterona endógena também estará suprimida nos homens. As concentrações de estradiol (E2) e prolactina, em conjunto com testosterona total e livre, oferecem uma melhor visualização do quadro hormonal, principalmente no pós-ciclo e em casos de ginecomastia e libido baixa. Avaliação de estrona e progesterona são desnecessárias geralmente pois parecem ter pouca influência no eixo HPT e nos efeitos colaterais. Importante reconhecer que enquanto as concentrações de LH e FSH estiverem suprimidas o eixo hipotálamo-hipófise (pituitária)-testicular (HPT) estará inibido, impedindo a recuperação da testosterona endógena e da espermatogênese, e a recuperação dos níveis de testosterona é muito mais lenta que a recuperação dos níveis de LH e FSH. Concentrações elevadas de estradiol e prolactina podem atrapalhar na recuperação do eixo HPT. Estradiol e DHT são dois hormônios que tendem a se elevar proporcionalmente com doses elevadas de testosterona, mas elevações da prolactina são mais comuns com uso de trembolona e estradiol muito elevado.
Essas são as principais alterações laboratoriais em usuários de esteroides anabolizantes, mas avaliações das concentrações de creatinina e ureia são relevantes para uma avaliação mais segura da saúde, embora função renal não seja normalmente afetada no curto prazo. Esteroides também podem reduzir as concentrações de hormônios da tireoide T3 e T4, mas sem afetar as frações livres, não sendo uma preocupação primordial. Avaliação de PSA para jovens usuários de esteroides não parece oferecer nenhum valor preditivo para problemas na próstata, mas em homens mais velhos (acima de 40 anos) é uma avaliação importante.
Exames laboratoriais mais importantes e com maiores (possíveis) alterações para usuários de esteroides:
Hemograma, perfil lipídico (colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos), AST. ALT, GGT, LH, FSH, testosterona total e livre, estradiol, prolactina, ureia, creatinina.
Outros exames podem ser adicionados para uma avaliação mais completa do perfil hormonal, metabólico e da saúde geral, de acordo com a análise do profissional de saúde.
abraços, Dudu Haluch