por David Ludwig
“Frutas são a principal fonte natural de frutose. A maioria das frutas tem cerca de 10 g de frutose, como monossacarídeo ou sacarose, por porção de 80 kcal, compreendendo pelo menos metade do teor total de açúcar. Se a frutose for tóxica em altas doses, então indivíduos que consomem grandes quantidades de frutas podem experimentar efeitos adversos.
No entanto, estudos observacionais relatam associações inversas entre o consumo de frutas e o peso corporal ou risco de doenças associadas à obesidade, sem limite superior evidente de proteção, embora alguns estudos não distinguem adequadamente entre frutas e vegetais.
Em possivelmente o único estudo intervencionista deste tipo, adultos bantu e brancos na África do Sul, com 20 a 64 anos, consumindo uma dieta ocidental foram instruídos a comer principalmente frutas (20 porções por dia para o participante típico) suplementando com nozes para satisfazer os requisitos básicos de macronutrientes. Apesar do conteúdo de frutose extraordinariamente alto desta dieta, presumivelmente cerca de 200 g / dia (800 kcal só de frutose), os investigadores não relataram efeitos adversos (e possível benefício) para o peso corporal, pressão arterial e níveis de insulina e lipídios após 12 a 24 semanas. Contudo, os resultados deste estudo devem ser interpretados com cautela devido a design, incluindo a falta de um grupo de controle ativo.
A ausência de danos causados pelo alto consumo de frutas provavelmente se relaciona com a taxa de digestão da fruta quando comparada uma bebida açucarada, produzindo concentrações de frutose portal que não excedem a capacidade metabólica hepática. Embora a fibra solúvel ajuda a reduzir a velocidade de absorção do açúcar no trato digestório (principalmente pelo aumento da viscosidade luminal), a forma física e estrutura celular da fruta inteira provavelmente têm um efeito maior, ao sequestrar o açúcar da superfície do intestino delgado. Além disso, o elevado teor de micronutrientes e antioxidantes protege contra a inflamação hepática e resistência à insulina sistêmica.”
ARTIGO:
Examining the Health Effects of Fructose
David S. Ludwig, MD, PhD
JAMA. 2013
Importante salientar que o objetivo do estudo não foi focar na perda de peso ou melhorar perfil metabólico e sim testar se o excesso de frutose vindo de frutas teria problemas semelhantes ao excesso de frutose provindo de carboidratos refinados e açúcar. Lembrando que o autor só mencionou o teor de frutose das frutas, mas facilmente a ingestão de frutas passou de 1000 kcal. Era de se esperar que o resultado não seria o mesmo que o consumo de frutose de carboidratos refinados, pela grande diferença de perfil nutricional. Lembrando que o teor de frutose e fibras pode variar muito entre as frutas. Só para ter noção 1kg de morango tem apenas ~300-350 kcal e umas 17g de fibras, enquanto 1kg de banana nanica chega a ter 900-1000 kcal (~20g de fibras), mas com bem mais frutose que o morango.
Quem considera que frutas podem promover efeitos adversos por possuírem frutose pode saber como é a via bioquímica da frutose, mas é fato que não entende nada de nutrição e metabolismo. Se 1kg de duas frutas podem ter tantas diferenças em termos de perfil calórico e nutricional, quem dirá comparar fruta com barra de chocolate.
abraços, Dudu Haluch