Já é bem conhecido a influência de hormônios como a testosterona no desejo sexual (libido) de homens e mulheres, e também está muito claro que todos os esteroides androgênicos aumentam a libido da mulher durante um ciclo de esteroides. No entanto o mesmo não parece acontecer com os homens, pelo menos no caso de ciclos sem testosterona, mas também é muito difundido o mito de que ciclos sem o uso de testosterona diminuem a libido ao extremo, e a experiência de mais de 60 anos de fisiculturismo mostra que não é bem assim. Durante muito tempo fisiculturistas usaram esteroides sem necessariamente combinar com testosterona, e não é bem conhecido relatos de que isso fosse um grande problema, embora é fato que muitos usuários de esteroides androgênicos homens sentem alguma queda na libido quando ciclam sem uma testosterona como base do ciclo. Como esteroides androgênicos podem provocar um comportamento sexual tão distinto entre homens e mulheres?
A remoção das gônadas (testículos e ovários) nos mamíferos leva à redução ou ausência da atividade sexual. Grandes doses de testosterona e outros androgênios em fêmeas castradas iniciam o comportamento feminino, e grandes doses de estrogênio em machos castrados desencadeiam respostas de acasalamento, e não se sabe o motivo porque hormônios do sexo oposto desencadeiam essas respostas ao sexo do animal [1]. Tanto a testosterona como o estrogênio são responsáveis pela libido nos homens. Os androgênios são bem conhecidos por serem essenciais para a sexualidade, mas sem a presença concomitante dos estrogênios são essencialmente sem efeito. Estudos têm demonstrado que a supressão da formação de estrogênio através do uso de inibidores da aromatase, ou resultante de um defeito congênito da aromatase reduz enormemente o desejo e função sexual, apesar da presença de níveis normais ou elevados de androgênios [2].
Assim como o estradiol (E2), a diidrotestosterona (DHT) – um outro metabólito que resulta da conversão da testosterona através da enzima 5 alfa-redutase, e é muito mais potente que a própria testosterona – também desempenha um papel importante na libido, sendo assim a conversão da testosterona em partes específicas do sistema nervoso central (SNC) em estradiol e DHT são necessárias para um bom desempenho da atividade sexual, uma vez que esses hormônios amplificam a ação da testosterona. É bem conhecido que o uso de finasterida (Proscar), um inibidor da 5 alfa-redutase, pode provocar queda na libido e na função sexual em alguns pacientes que tratam calvície e câncer de próstata com esse medicamento.
Agora que está claro a importância do estradiol e do DHT para a libido fica mais fácil entender porque o uso de esteroides androgênicos num ciclo sem testosterona pode provocar uma queda na libido. Isso não acontece apenas pela ausência da testosterona, pois sabemos que os androgênios em geral cumprem o papel de manter ou mesmo aumentar a libido nas mulheres independente de usar ou não testosterona. O que acontece em geral é que quando homens usam testosterona exógena, os níveis de estradiol e DHT em geral se elevam na mesma proporção que os níveis de testosterona, mantendo as razões T/DHT e T/E2 inalteradas [3], mas aumentando a atividade desses hormônios no SNC, e consequente a um aumento da atividade sexual. Sendo assim, quando homens usam androgênicos sem testosterona, não é apenas a supressão dos níveis endógenos de testosterona que provoca a queda da libido, mas também a consequente redução dos níveis estradiol e do DHT no SNC, resultado dos baixos níveis de testosterona, e dessa forma o uso de andrógenos sem testosterona pode não ser suficiente para manter um bom nível atividade sexual, mas isso não significa sempre uma queda de libido ao extremo como muitos podem pensar.
Nos homens os esteroides androgênicos além da testosterona também podem manter a libido, mas isso muitas vezes não é suficiente pela quebra do equilíbrio na atividade dos hormônios estradiol e DHT, já nas mulheres isso não é um problema porque a dose de androgênios num ciclo é muito maior do que os níveis fisiológicos de androgênios produzidos pela mulher. É por isso também que redução nos níveis de testosterona num ciclo (mesmo mantendo doses acima do limite fisiológico) e o crash hormonal após um ciclo de esteroides provoca em geral uma grande queda no desejo sexual, porque você reduz a dose de androgênios e também o equilíbrio entre testosterona, DHT e estradiol.
Referências:
[1] Fisiologia Médica, W. F. Ganong, 22ª edição, cap. 15 e 23.
[2] http://thinksteroids.com/articles/androgens-libido-sexual-function/
[3] Endocrinologia Feminina e Andrologia, Ruth Clapauch.
abraços, DUDU HALUCH