É muito comum no fisiculturismo e nos esportes de força em geral o uso e a crença que quanto mais proteína melhor, justamente porque as proteínas são responsáveis pela formação e manutenção do tecido muscular, o anabolismo [1]. O anabolismo muscular corresponde a um aumento da síntese de proteínas, e isso acontece principalmente pela ação dos hormônios anabólicos: insulina, GH, IGF-1, testosterona. O catabolismo muscular corresponde a um aumento da degradação das proteínas em aminoácidos, e isso acontece principalmente pela ação de hormônios catabólicos, principalmente os glicocorticoides, mas também as catecolaminas (epinefrina e noroepinefrina), o glucagon e os hormônios da tireoide [2].
O exercício de força representa um potente estímulo para a ocorrência de hipertrofia da fibra muscular em humanos. O processo de hipertrofia ocorre quando a taxa de síntese proteica muscular excede a taxa de degradação, acarretando em saldo positivo do balanço proteico muscular. A alimentação representa forte estímulo para tornar tal balanço positivo. O conjunto treinamento de força e dieta é responsável por melhorar as adaptações hormonais responsáveis pela síntese de proteínas, promovendo um aumento e melhor resposta dos hormônios anabólicos (insulina, GH, testosterona). Isso é de fundamental importância para entender as necessidades proteicas de indivíduos que praticam o treinamento de força (fisiculturistas, powerlifters).
Um estudo realizado por Tarnopolsky et al. mostrou que as necessidades proteicas para atletas de força é da ordem de 1,4 g/kg/dia, e atletas que ingeriam mais proteína, cerca de 2,4 g/kg/dia não obtiveram um aumento da síntese de proteínas [3]. O consumo de 2,4 g/kg/dia de proteína evidenciou um aumento na oxidação de aminoácidos, indicando que um consumo acima do preconizado reverte em um excesso que necessariamente precisa ser removido do corpo via oxidação [4]. O consumo de 1,7-1,8 g/kg/dia de proteínas é recomendado para indivíduos que estão iniciando no treinamento de força, enquanto a quantidade recomendada para indivíduos sedentários é de 0,8 g/kg/dia. Em uma análise mais recente Lemon (1995) propõe uma necessidade de cerca de 1,4-1,8 g /kg /dia para atletas de força. Esta recomendação pressupõe uma adequada ingestão calórica e uma dieta mista em qualidade de proteínas. Variabilidade da necessidade dentro dessa faixa vai depender de fatores como a experiência de treinamento, intensidade, duração e frequência do regime anaeróbio, a adição de um componente de treinamento aeróbio (comum a construtores do corpo), o uso de esteroides anabolizantes androgênicos (o que aumenta a síntese de proteínas), e idade (atletas em crescimento precisam de proteína adicional) [5]. Vários estudos têm demonstrado que indivíduos com longos períodos de treinamento de força tem suas necessidades proteicas reduzidas (cerca de 1,2 g/kg/dia), o que mostra que esse tipo de atividade torna o metabolismo proteico mais eficiente frente à ingestão de proteínas. Então ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, atletas mais experientes necessitam de uma quantidade g/kg/dia de proteínas menor do que indivíduos que estão iniciando o treinamento de força [6]. A quantidade total de proteínas para um atleta pode ainda ser maior devido a sua quantidade de massa muscular.
Esse aumento da eficiência do metabolismo proteico em indivíduos treinados por longo tempo está muito provavelmente relacionado a uma melhor resposta aos hormônios anabólicos. Isso implica que o uso de hormônios anabólicos exógenos pode aumentar ainda mais a síntese de proteínas, mas nesse caso, o uso de hormônios anabólicos (GH, insulina, esteroides androgênicos) deve ser acompanhado por um aumento no consumo de proteínas, uma vez que a síntese de proteínas é aumentada e a degradação reduzida. Isso não significa um aumento de 4-5 g/kg/dia de proteínas, e sim um aumento razoável que deve variar entre 2 a 3 g/kg/dia se nós considerarmos o que os hormônios anabólicos fazem é aumentar a eficiência do metabolismo proteico. Mas estou apenas especulando aqui em se tratando de números, já que não existem estudos feitos com usuários de esteroides, e a quantidade de proteína requerida pode variar muito das dosagens e drogas usadas. Mas uma coisa é clara, um indivíduo que cessa o uso de esteroides deve reduzir a quantidade de proteínas e não aumentar, pois o metabolismo proteico vai sofrer uma queda após a retirada dos esteroides anabólicos, devido aos baixos níveis de testosterona pós-ciclo, ficando o metabolismo proteico mais dependente da insulina, do hormônio do crescimento e dos hormônios catabólicos (glicocorticoides, glucagon, catecolaminas, T3 e T4), gerando um balanço proteico muscular negativo (catabolismo), não pela falta de proteínas e sim pela queda da síntese proteica provocada pelos baixos níveis de androgênios.
Esses estudos só vem a demonstrar que a maioria dos atletas e muitos dos praticantes do treinamento de força consomem mais proteína do que o necessário, e mesmo que isso em geral não tenha graves consequências para a saúde, pode ser fundamental para uma maior eficiência metabólica da dieta, já que a maiorias dos indivíduos praticantes do treinamento de força dão uma atenção e relevância muito maior às proteínas, em detrimento das necessidades de carboidratos e gorduras.
abraços, DUDU HALUCH
[1] Willians Nutrição Básica & Dietoterapia, Staci Nix, 13ª edição.
[2] Fisiologia do Esporte e do Exercício, 5ª edição.
[3] Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte, 2ª edição.
[4] Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Atividade Física, Julio Tirapegui, 2ª edição.
[5] http://www.mikementzer.com/proteinpart2.html
Protein requirements and muscle mass/strength changes during intensive training in novice bodybuilders
http://jap.physiology.org/content/73/2/767.short
Effect of exercise on protein requirements
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02640419108729866#.Up97mE9TvmI
[6] Suplementação Esportiva, Auxílios Ergogênicos Nutricionais no Esporte e Exercício.