FISIOLOGIA DOS HORMÔNIOS NO FISICULTURISMO (DUDU)

Tempo estimado de leitura: 8 minutos

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Aspectos do exercício, nutricionais e farmacológicos (versão mais completa).

Bodybuilding é um esporte complexo e também muito belo por tudo que envolve. Em sua profundidade ele envolve muita fisiologia, biologia, bioquímica, mostrando porque o nosso corpo está entre os mais belos laboratórios que um cientista pode estudar.

Olhando mais para o aspecto da fisiologia existem várias formas de explicar como os hormônios atuam no corpo para transformar o físico de um atleta. Muitas análises são simplistas e ignoram interações mais complexas, segue daí que muitos acreditam em suplementos milagrosos ou em estratégias nutricionais equivocadas.

Entender os hormônios no fisiculturismo envolve não só sua aplicação no âmbito farmacológico, mas também entender como os hormônios do nosso corpo atuam por influência do treinamento e da nutrição.



A maioria entende que os ganhos de massa muscular são lentos para um indivíduo natural, principalmente para os indivíduos com muita massa muscular e longo tempo de treino. Segue daí a máxima: “quanto mais treinado um indivíduo, menos treinável ele é”. Importante entender que o principal hormônio responsável pelo ganho de massa muscular é a testosterona e as variações desse hormônio com o treinamento são sutis. No entanto, fica muito claro o potencial da testosterona e seus derivados (esteroides anabolizantes) para aumentar massa muscular quando se administram doses desse hormônio 3-5 x maiores das que o corpo produz. Nenhum hormônio aumenta massa magra de forma tão eficiente e rápida como a testosterona e seus derivados, daí você entende por que um indivíduo que faz uso de esteroides evolui tão rápido, assim como perde boa parte dos ganhos quando interrompe o uso.

O mesmo não se pode dizer do GH e da insulina, já que doses muito maiores desses hormônios têm pouca contribuição para o ganho de massa muscular, quando usados isoladamente. Então, se testosterona é o principal hormônio responsável pelo volume muscular de fisiculturistas porque tanta euforia com GH e insulina. Aí que entra a complexidade da fisiologia que envolve o bodybuilding, que de certa forma não é bem compreendida pela ciência, mas que o empirismo de atletas e treinadores tem validado na prática.

O hormônio do crescimento (GH) é um hormônio lipolítico/termogênico e anabólico, o que significa que ele é capaz de aumentar a massa muscular e a queima de gordura, aumentando a massa magra. Isso parece maravilhoso e o GH é estimulado tanto pelo exercício intenso como pelo jejum e inibido pelo excesso de carboidratos e cortisol. A questão é saber o quanto de fato esse hormônio contribui para aumento da massa muscular e para a queima de gordura. Tanto em uma dieta low carb, de jejum intermitente ou na pratica de um exercício intenso é difícil atribuir ao GH por si só um efeito diferenciado para aumentar massa magra, já que as variações das calorias da dieta e dos níveis de insulina parecem ser um diferencial muito maior. Já os estudos com uso de GH sintético para fins estéticos também não são muito animadores, mostrando pouco ou nenhum efeito no aumento da massa magra em indivíduos saudáveis, pouca contribuição para perda de gordura e ainda quase nenhum efeito no aumento da massa muscular em atletas.



O fato é que fisiculturistas endeusam GH desde os anos 80 e isso parece estar relacionado a um possível efeito sinérgico com esteroides androgênicos. Por mais que pareça especulação, os anos 90 mostrou que fisiculturistas podiam ficar cada vez maiores quando combinavam altas doses de esteroides com GH e insulina. Isso mostra que os efeitos do GH no nosso corpo vão além de olhar apenas para os aspectos do treinamento e da nutrição e que seu uso farmacológico envolve uma maior complexidade quando se trata da combinação com outros hormônios.
A insulina é outro hormônio que apresenta características muito interessantes quando se analisa principalmente seu uso farmacológico, mas também quando se analisa suas mudanças de acordo com a estratégia nutricional. É um hormônio anabólico e lipogênico, aumenta a síntese de proteínas e a síntese de lipídeos, mas acima de tudo seu grande diferencial é reduzir a degradação de proteínas e inibir a lipólise (quebra de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol). Resumindo, é um poderoso hormônio anti-catabólico, o que significa que níveis elevados de insulina – uma dieta rica em carboidratos por exemplo – evita o catabolismo muscular e a perda de gordura (efeito poupador de proteína e gordura). Consequentemente, você dificilmente perde massa muscular em uma dieta rica em carboidratos, assim como também dificilmente queima gordura. Segue daí, que você precisa reduzir os carboidratos da dieta, consequentemente reduzir os níveis de insulina, para favorecer a perda de gordura com mais eficiência, por isso também terá mais dificuldades para manter sua massa muscular, mesmo que aumente as proteínas da dieta.

Como foi dito, a insulina pode aumentar a síntese e reduzir a degradação de proteínas, sendo por isso um poderoso hormônio anabólico. Maravilhoso então seria administrar insulina para ganhar grandes quantidades de massa muscular. Acontece que a insulina só se mostra eficaz para aumento da síntese proteica quando administrada em doses elevadas, adicionando o fato que você ganhará muita gordura, não só por administrar altas doses de insulina, mas porque terá que comer muito mais calorias (carboidratos principalmente). O uso desse hormônio de forma isolada visando ganho de massa muscular é um desastre, você ficará gordo antes de qualquer coisa.

No entanto, desde o final dos anos 80 fisiculturistas tem usado insulina em combinação com esteroides, GH e outras drogas para aumentar seu volume muscular de forma absurda (era freak). Acontece que isso só parece acontecer de forma eficiente em altas doses, quando combinada com abuso de GH e esteroides. Isso tudo tem um alto preço, fisiculturistas de hoje abusam por anos de insulina e parecem cada vez maiores e também com grande dilatação do abdômen, aumento dos órgãos internos e gordura visceral, resultado da combinação GH, insulina, IGF-1 e muita comida. Existe uma poderosa sinergia entre esses hormônios, que do início dos anos 90 até os dias de hoje deixou os fisiculturistas profissionais cada vez maiores, mas não sem indesejáveis efeitos colaterais.



Cortisol é outro hormônio que desempenha um papel importante no âmbito do fisiculturismo, mas atletas parecem superestimar seus efeitos quando se trata dos aspectos do treino e da nutrição. É um hormônio catabólico para as proteínas, mas também lipolítico, estimulado principalmente em situações de estresse físico ou emocional. Cortisol é estimulado pelo exercício e em condições de jejum, situações em que favorece o catabolismo das proteínas, mas também da gordura. É um hormônio necessário para as adaptações do treinamento, inclusive por sua atividade anti-inflamatória, então inibir sua ação fisiológica natural não é algo desejável e sim evitar excesso de treinamento e estresse emocional, inclusive o estresse durante a preparação para uma competição. Dessa forma, não faz nenhum sentido querer inibir a atividade desse hormônio no jejum e durante o exercício, principalmente quando se faz uma boa estratégia nutricional e está usando esteroides anabolizantes. O corpo está sempre renovando proteínas e nesse sentido a ação do cortisol no catabolismo é muito importante, enquanto hormônio anabólicos atuam no aumento da síntese proteica após o jejum e o exercício. Tanto o cortisol como o GH aumentam a resistência à insulina.

Claro que você pode perder muita massa muscular em uma dieta pré-contest, mas o catabolismo não depende muito do cortisol estimulado pelo exercício, mas principalmente de quanto você restringiu sua dieta ou do ambiente hormonal. Fazer uma dieta após um ciclo de esteroides seria um desastre, ou então quando você inicia uma dieta com uma déficit calórico muito elevado e sem o uso de esteroides androgênicos.

Hormônios da tireoide também desempenham um importante papel durante a preparação de um bodybuilder, principalmente na fase de pré-contest. Com a redução de carboidratos e calorias da dieta a lipólise e queima de gordura são estimuladas, principalmente pela redução dos níveis de insulina e ação também dos hormônios lipolíticos como cortisol e GH. As catecolaminas adrenalina e noradrenalina desempenham sua atividade lipolítica principalmente durante o exercício. Durante as primeiras semanas de dieta ocorrem as maiores perdas de peso e gordura, o metabolismo responde de forma eficiente mesmo sem o uso de estimulantes, apenas com a restrição de calorias/carboidratos e aumento do volume (principalmente já que calorias estão restringidas nessa fase) ou intensidade do treino. Com maior tempo de dieta o organismo vai criando mecanismo poupadores de energia, sendo a redução da taxa metabólica um desses mecanismos principais (além da redução da leptina, adaptação mitocondrial).



A taxa metabólica é regulada principalmente pelos hormônios da tireoide, tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), sendo o T3 o principal deles para exercer atividade biológica, aumentando o número e tamanho das mitocôndrias, o consumo de oxigênio e a produção de calor. A importância do T4 basicamente é que a maior parte do T3 vem da conversão de T4 em T3 nos tecidos periféricos. Com a redução da taxa metabólica o corpo tende a reduzir a perda de gordura e isso está relacionado à redução das calorias e carboidratos da dieta. Não há como evitar esse tipo de adaptação metabólica em uma dieta restrita em calorias, mas é possível criar formas de atenuar esse efeito. Por isso também atletas usam termogênicos, incluindo hormônios da tireoide, para acelerar a perda de gordura, mas é um grande equívoco usar termogênicos no início de uma preparação ou quando o percentual de gordura ainda é alto. Isso porque essas drogas têm um efeito limitado e assim como aceleram a perda de gordura, também geram mais adaptação metabólica, de forma que após interromper seu uso é de se esperar um efeito rebote ou pelo menos uma grande dificuldade de continuar perdendo gordura. Não vou entrar nos detalhes disso, porque não é a intenção do artigo discutir essas estratégias. Essas drogas são muito potentes para acelerar a queima de gordura, mas o crash metabólico após a interrupção do uso pode ser um desastre. Importante lembrar também que o excesso desses hormônios em doses farmacológicas aumenta a degradação de proteínas e a demanda por vitaminas, então o potencial desses hormônios para o catabolismo muscular aumenta em uma dieta muito restrita.

Os hormônios da tireoide também aumentam o número de receptores beta-adrenérgicos (up-regulation). Nos receptores beta-adrenérgicos e alfa-adrenérgicos atuam as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), hormônios secretados pela medula adrenal em situações de estresse do tipo “luta e fuga”, portanto seus níveis se elevam principalmente durante o exercício, aumentando a frequência cardíaca, pressão arterial, taxa metabólica, favorecendo fluxo de oxigênio e de combustíveis para os tecidos. Esses hormônios, principalmente a adrenalina, são responsáveis pela quebra do glicogênio hepático e muscular, estimulando o uso de glicose como fonte de energia. Também atuam no tecido adiposo ativando a lipólise, fornecendo ácidos graxos como fonte de energia para os músculos para manutenção da atividade física. A adrenalina também estimula a ação do glucagon, enquanto inibe a ação da insulina durante o exercício.

Fármacos agonistas beta-adrenérgicos como salbutamol, clembuterol e efedrina (atua nos receptores alfa também), atuam nos receptores beta-adrenérgicos – receptores das catecolaminas -, principalmente receptor beta 2, onde ao se ligarem nesse receptor iniciam a lipólise no tecido adiposo, quebrando a gordura em ácidos graxos e glicerol. Clembuterol é um agonista beta 2 tão potente que leva à saturação desses receptores no prazo de poucas semanas, enquanto efedrina pode ser usada por mais tempo. Já a ioimbina atua como antagonista dos receptores alfa-adrenérgicos (alfa 2), receptores que quando ativados inibem a lipólise, por isso essa droga permita a perda de gordura evitando a ativação dos receptores alfa 2 adrenérgicos.



Existem muitos outros hormônios importantes envolvidos na transformação do corpo de um fisiculturista, ou de qualquer indivíduo que siga as mesmas estratégias para transformar seu corpo, mas vou encerrando por aqui porque tenho que estudar outros assuntos. Os principais, que gostaria de abordar em outro momento, são a aldosterona e o hormônio anti-diurético, hormônios com importante papel na fase de finalização de uma fase pré-contest.

abraços, Dudu Haluch

FONTE: Dudu Haluch




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