Já havia discutido num texto anterior sobre a baixa eficácia do uso de insulina no bodybuilding, em particular num contexto de low doses (10-20UI por dia) [1]. No entanto a maioria das que vivenciam e estudam o fisiculturismo sabem que o abuso de insulina parece ser o grande responsável pela transição dos físicos clássicos da old school dos anos 70-80 para os físicos freaks à partir dos anos 90 até os dias de hoje.
O fato é que não é bem compreendido ainda a sinergia entre os diferentes hormônios (GH, esteroides) e o uso da insulina. Apesar de ser responsável pelo grande volume dos físicos de fisiculturistas profissionais, a insulina também é culpada por destruir a estética dos físicos valorizados na old school, principalmente no que tange à linha de cintura. Em conjunto com o GH e a grande quantidade de alimento a insulina aumenta o volume das vísceras e da cavidade abdominal, pois o trato gastrointestinal possui muitos receptores de IGF-1 e responde aos aumentos de IGF-1 estimulado pelo GH, enquanto a insulina potencializa a absorção de nutrientes e aumento do volume celular.
Níveis elevados de insulina aumentam a degradação dos receptores, diminuindo o número de receptores na superfície. Isso se chama “regulação por subsensibilização”. Esse é um paradoxo para os que gostam de abusar de insulina, mas ainda não explica porque da sua eficácia para grande aumento de volume muscular quando em combinação com outros hormônios em doses altas (GH e esteroides).
O GH aumenta a resistência à insulina, pois diminui a captação de glicose pelos tecidos (músculos e tecido adiposo), aumenta a produção de glicose pelo fígado e aumenta a secreção de insulina. Esse seria mais um motivo para não se usar GH com insulina, e mostra que o cenário hormonal só é completo quando se usa esteroides em conjunto. Na verdade o uso de apenas GH e insulina é muito ineficiente sem combinação com esteroides androgênicos. Isso acontece provavelmente porque esteroides tem uma forte sinergia com esses hormônios. Além de possuir uma sinergia por atuarem por mecanismo distintos, tanto esteroides como GH elevam níveis e receptores de IGF-1, e receptores androgênicos (observado na próstata de ratos) [2]. Então o GH pode potencializar o efeito do esteroides por aumentar a síntese de AR (receptor androgênico). Assim o GH poderia aumentar a eficiência dos esteroides, tanto para hipertrofia, como também por potencializar o efeito lipolítico dos mesmos no tecido adiposo.
A testosterona aumenta a expressão do receptor de insulina e expressão e fosforilação do IRS, o que aumenta a capacidade de resposta celular à insulina. Expressão de GLUT4 e translocação para membrana também é aumentada em resposta a testosterona, o que aumenta a absorção de glicose celular e à utilização potencialmente através de um aumento na fosforilação do AKT e da PKC [3]. No entanto, associação entre hiperandrogenismo e resistência à insulina é bem reconhecida em mulheres com síndroma dos ovários policísticos (SOP).
Dados inconclusivos também foram relatados em homens em doses de reposição de testosterona ou suprafisiológicas, com alguns estudos sugerindo um efeito sensibilizante da testosterona sobre o metabolismo da glicose e outros que não mostraram efeito [4]. A testosterona tem efeitos bidirecional dose e tempo dependentes sobre a expressão celular do IRS-1 e GLUT-4, que aumentam com tratamento de testosterona em dose baixa e curto tempo e diminuem com tratamento de doses altas e longo tempo [5].
Apesar do efeito sinérgico entre hormônios esteroides e peptídeos ainda não ser bem compreendido, os estudos que mostram interações entre eles parecem indicar que o abuso de tais substâncias potencializa o ganho de volume muscular. E nos dá pistas também do porque esse abuso piora a qualidade do físico dos atletas (abdômen dilatado e abuso de SEOs).
abraços, dudu haluch
[1] Eficiência do uso da insulina no bodybuilding (DUDU)
[2] Growth hormone and prolactin stimulate androgen receptor, insulin-like growth factor-I (IGF-I) and IGF-I receptor levels in the prostate of immature rats.
Reiter E et al.
[3] Testosterone and insulin resistance in the metabolic syndrome and T2DM in men
Preethi M. Rao, Daniel M. Kelly & T. Hugh Jones
[4] The Relationships Between Testosterone, Body Composition, and Insulin Resistance
A lesson from a case of extreme hyperandrogenism
[5] [Effects of testosterone on insulin receptor substrate-1 and glucose transporter 4 expression in cells sensitive to insulin].
[Article in Chinese]
Chen X1, Li X, Huang HY, Li X, Lin JF.