Ao contrário do que muitos podem pensar, catabolismo é um processo metabólico necessário para o organismo, tanto quanto o anabolismo. O catabolismo é o responsável pelo fornecimento da energia química necessária para a manutenção e o crescimento das células, seja através da degradação dos carboidratos (glicólise e glicogenólise); das gorduras, pela quebra de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol (lipólise); e também pela degradação proteica, fornecendo aminoácidos como substrato para a gliconeogênese (síntese de glicose à partir de aminoácidos, glutamina e alanina).
Os principais hormônios catabólicos são glucagon, adrenalina, cortisol e GH, todos contrarreguladores da ação da insulina. Os três primeiros agem em conjunto ativando diversas vias catabólicas, como glicogenólise, proteólise e lipólise, ao passo que o GH ativa a lipólise no tecido adiposo (queima de gordura), mas estimula a síntese de proteínas no músculo esquelético (anabolismo). Esses hormônios são estimulados principalmente em períodos de jejum e durante o exercício físico, quando a secreção de insulina (principal hormônio anabólico) é reduzida, em decorrência da diminuição da glicemia [2]. A preocupação do catabolismo proteico durante o exercício e a tentativa de inibir ação do cortisol durante o treinamento de força são duas ações que considero improdutivas, não só pela redução da lipólise, mas também porque o cortisol é um hormônio necessário nas adaptações ao exercício de força, provavelmente atuando nos processos de reparação tecidual (inibindo a resposta inflamatória à lesão tecidual). Em condições normais, o cortisol não justifica a fama de hormônio cuja concentração, uma vez aumentada, provocaria um aumento do catabolismo da massa muscular. Finalmente, estudos demonstram que em condições de estresse prolongado (um determinado exercício) há diminuição da secreção de cortisol (após 30-45 minutos de exercício), tornando infundado o medo de catabolismo muscular durante o treino. Segundo Chris Aceto: ”Níveis elevados de cortisol permitem o efeito máximo, tanto do GH como da adrenalina (ação permissiva). GH e adrenalina estimulam o corpo a quebrar a gordura corporal (lipólise). Se os níveis de cortisol estiverem elevados, você quebra mais gordura do que se eles não estiverem elevados. Cortisol também estimula a quebra das células de gordura independente dos níveis de GH e adrenalina. As chances de um corpo treinado inibir taxas elevadas de cortisol são muito maiores do que daquele corpo estressado, acima do peso, e que não se exercita. Minha opinião sobre o cortisol é de que, na realidade, ele é benéfico para entrar em forma” [3].
Agora, existe uma razão para se preocupar tanto com o catabolismo proteico? Quando ele realmente é uma preocupação?
O catabolismo como um processo crônico de perda de massa muscular em indivíduos treinados não acontece de um dia para o outro. As condições para que isso aconteça envolvem destreinamento, por um período maior que ~2 semanas, má alimentação com déficit calórico por dias prolongados, e principalmente uma alteração agressiva no perfil hormonal, como é o caso de indivíduos que fazem uso de esteroides androgênicos. Durante breves períodos (2 a 8 semanas) de destreinamento em homens, as áreas das fibras do tipo I (vermelhas, lentas) e do tipo II (brancas, rápidas) podem diminuir quando comparadas com a condição de treinado [4]. Mesmo com a redução da frequência e volume de treino para 1-2x na semana estudos indicam que é possível manter e até mesmo aumentar massa muscular.
Em crianças a desnutrição provoca um catabolismo muscular e a relação massa muscular/comprimento do osso diminui. Com a recuperação nutricional, o estímulo para o crescimento aumenta como um efeito supercompensador (efeito catch-up do crescimento), até que a relação peso/altura se restabelece em níveis normais. Assim sendo, o crescimento rápido do músculo cessa imediatamente. Esse efeito de recuperação do crescimento pode ser aplicado também a atletas e pessoas que passam por uma dieta restritiva para perder gordura, e acabam perdendo uma boa parte da massa muscular. Nesse caso o efeito é apenas sobre o crescimento muscular (considerando que o crescimento ósseo tenha terminado), e o efeito supercompensador acontece desde que o estímulo de treino seja mantido. O catabolismo muscular em dieta acontece principalmente pela perda de peso muito rápida, com o organismo sofrendo carência de substrato energético (proteínas, mas principalmente carboidratos, vitaminas e minerais). Assim que a dieta é normalizada os ganhos de massa muscular se recuperam rapidamente [5].