O cortisol é secretado pela glândula supra-renal em resposta ao estímulo do hormônio ACTH (corticotrofina), produzido na hipófise anterior. O ACTH é secretado em surtos irregulares durante todo o dia, e o cortisol plasmático tende a aumentar e cair em resposta a estes surtos. Nos seres humanos, os surtos são mais frequentes no início da manhã, e cerca de 75% da produção diária de cortisol ocorre entre 4 e 10 h da manhã. Os níveis plasmáticos de cortisol de manhã variam de 5 e 25 mcg/dl (149 – 690 nmol/L), sendo que a tarde os níveis devem ser menor que 35% do valor obtido pela manhã. Em uma situação normal de estresse os níveis de cortisol podem variar na média de 25 a 50 mcg/dl.
O cortisol, o hormônio catabólico por excelência, tem três ações primárias:
1) estimula a quebra de proteínas, através do aumento da glicogênese e gliconeogênese hepáticas, elevando a glicose;
2) estimula a quebra de gorduras, elevando a lipólise;
3) providencia a metabolização da glicose no fígado (ação antiinsulina). A atuação do cortisol no organismo é antagônica à insulina, sendo análoga à do glucagon.
Considerado o hormônio do stress, ativa respostas do corpo ante situações de emergência para ajudar a resposta física aos problemas, aumentando a pressão arterial e o açúcar no sangue, propiciando energia muscular. Ao mesmo tempo todas as funções anabólicas de recuperação, renovação e criação de tecidos são paralisadas e o organismo se concentra na sua função catabólica para a obtenção de energia.
A preocupação do catabolismo proteico durante o exercício e a tentativa de inibir ação do cortisol durante o treinamento de força são duas ações que considero improdutivas, não só pela redução da lipólise, mas também porque o cortisol é um hormônio necessário nas adaptações ao exercício de força, provavelmente atuando nos processos de reparação tecidual (inibindo a resposta inflamatória à lesão tecidual). Em condições normais, o cortisol não justifica a fama de hormônio cuja concentração, uma vez aumentada, provocaria um aumento do catabolismo da massa muscular. Finalmente, estudos demonstram que em condições de estresse prolongado (um determinado exercício) há diminuição da secreção de cortisol (após 30-45 minutos de exercício), tornando infundado o medo de catabolismo muscular durante o treino. Segundo Chris Aceto: ”Níveis elevados de cortisol permitem o efeito máximo, tanto do GH como da adrenalina (ação permissiva). GH e adrenalina estimulam o corpo a quebrar a gordura corporal (lipólise). Se os níveis de cortisol estiverem elevados, você quebra mais gordura do que se eles não estiverem elevados. Cortisol também estimula a quebra das células de gordura independente dos níveis de GH e adrenalina. As chances de um corpo treinado inibir taxas elevadas de cortisol são muito maiores do que daquele corpo estressado, acima do peso, e que não se exercita. Minha opinião sobre o cortisol é de que, na realidade, ele é benéfico para entrar em forma”.
Diversas causas podem gerar o aumento do cortisol no sangue, mas, a mais comum é o estresse, e, neste caso, as consequências serão:
– perda de massa muscular;
– aumento do peso, adiposidade central, com distribuição da massa gorda pelo abdômen, tronco e face – aspecto Cushingóide – nos hipercortisolismos;
– aumento das chances de osteoporose, inibe a formação de novas estruturas ósseas, por redução da síntese de colagénio do tipo I (componente fundamental da matriz óssea), redução da velocidade de diferenciação de células-osteoprogenitoras em osteoblastos ativos, diminuição da absorção de Ca2+ a partir do trato gastrointestinal (por antagonismo da vitamina D3), e, finalmente, por aumento da velocidade de reabsorção óssea);
– dificuldade na aprendizagem;
– baixo crescimento (diminui a secreção de GH e TSH);
– supressão das respostas inflamatórias e imunes (imunodepressão).
É importante lembrar que esses efeitos estão associados a aumentos prolongados do cortisol (sintomas característicos da síndrome de Cushing), como em situações crônicas de estresse emocional e físico, tumores das glândulas supra-renais que secretam glicocorticoides, hiperplasia supra-renal e administração prolongada de glicocorticoides exógenos para doenças , tais como artrite reumatoide. Em situações de exercício físico, mesmo que intenso, mas em condições adequadas de descanso e nutrição, o cortisol é um aliado, não um vilão. Há evidências de que atletas treinados em exercício aeróbio produzem menor aumento nos níveis de cortisol quando submetidos à sessão de exercício resistido (treinamento de força). Estratégias nutricionais, como manter-se hidratado, ingerir carboidratos ou aminoácidos durante ou após o treino são muito eficazes na diminuição dos níveis de cortisol, embora durante o treinamento esse tipo de suplementação possa interferir na lipólise, por estimular a insulina e aumentar oferta de carboidratos. O cortisol elevado pode ser prejudicial ao atleta de força (powerlifters) ou atleta de resistência (ciclistas, triatletas, maratonistas) que pratica atividade física intensa e de longa duração, e nesse caso a nutrição e o descanso desempenham um papel muito importante para evitar níveis elevados e prolongados de cortisol.
abraços, Dudu Haluch
REFERÊNCIAS:
– Fisiologia Médica, W. Ganong, 22ª edição;
– HIPERTROFIA HIPERPLASIA, 3ª edição.
– Exercício, emagrecimento e intensidade do treinamento, Aspectos fisiológicos e metodológicos; Carnevali Jr., Lima, Zanuto & Lorenzeti, 2ª edição;
– Characterization of the cortisol response to incremental exercise in physically active young men
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18642761
– Exercise and circulating cortisol levels: the intensity threshold effect.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18787373
– Cortisol – Essential Adaptation Hormone in Exercise
https://www.thieme-connect.com/ejournals/abstract/10.1055/s-2004-821068
– Cortisol and GH: odd and controversial ideas
http://www.nrcresearchpress.com/doi/abs/10.1139/H07-064#.UukBQ7TJ3IU
– http://pt.wikipedia.org/wiki/Cortisol
– https://duduhaluch.com.br/suplementacao-intra-treino-e-importancia-do-cortisol-dudu/
– http://www.tuasaude.com/cortisol/