Quais os efeitos de altos níveis de proteína da dieta no metabolismo e nos hormônios?
Um estudo realizado por Tarnopolsky et al. mostrou que as necessidades proteicas para atletas de força é da ordem de 1,4 g/kg/dia, e atletas que ingeriam mais proteína, cerca de 2,4 g/kg/dia não obtiveram um aumento da síntese de proteínas [1]. O consumo de 2,4 g/kg/dia de proteína evidenciou um aumento na oxidação de aminoácidos, indicando que um consumo acima do preconizado reverte em um excesso que necessariamente precisa ser removido do corpo via oxidação [2]. O consumo de 1,7-1,8 g/kg/dia de proteínas é recomendado para indivíduos que estão iniciando no treinamento de força, enquanto a quantidade recomendada para indivíduos sedentários é de 0,8 g/kg/dia.
Um estudo recente mostrou que indivíduos treinados que ingeriam 5,5 vezes a dose diária de proteína (4,4g/kg) por um período de 8 semanas não tiveram mudança na composição corporal, sendo que a dieta desses indivíduos tinha um excedente calórico (devido ao excesso de proteínas) [3].
Esse estudo suporta a ideia de que a conversão de proteínas em gordura é pouco favorecida, assim como a síntese proteica não aumenta, com o excesso de proteínas. A degradação de aminoácidos é elevada em uma dieta com elevado teor de proteínas. A remoção do nitrogênio das proteínas é necessária para o catabolismo dos aminoácidos. Isso acontece através dos processos de transaminação (reação catalisada pelas enzimas TGO e TGP) e desaminação oxidativa, reações que fornecem a amônia e o aspartato, as duas fontes de nitrogênio para a ureia [4]. Com o processo de desaminação oxidativa, os esqueletos de carbono dos aminoácidos podem participar como intermediários metabólicos importantes, sendo transformados em glicose (gliconeogênese) ou oxidados pelo ciclo de Krebs [5]. Em dietas hiperproteicas, níveis de ureia elevados podem indicar aumento da degradação do excesso de proteínas da dieta.
“Em uma revisão por Phillips e Van Loon [6] , sugere-se que a ingestão de proteínas de 1,8-2,7 g / kg para atletas treinados em hipertrofia em condições hipocalóricas pode ser o ideal. Embora esta seja uma das únicas recomendações existentes que tem como alvo atletas durante a restrição calórica, esta recomendação não é dada considerando fisiculturistas realizando treinamento simultâneo aeróbico e treinamento resistido em níveis muito baixos de gordura corporal. No entanto, a revisão sistemática publicada recentemente por Helms et al. [7] sobre a ingestão de proteína em treinamento de resistência, os atletas secos durante a restrição calórica sugerem uma gama de 2,3-3,1 g / kg de massa magra, o que pode ser mais apropriado para musculação. Além disso, os autores sugerem que, quanto menor a gordura corporal do indivíduo, maior o déficit calórico aplicada e quando o objetivo principal é o de manter a massa magra , maior o consumo de proteína ( na gama de 2,3-3,1 g / kg de massa magra) deveria ser [8]”.
Esse aumento da demanda proteica em condições hipocalóricas acontece porque os carboidratos possuem um efeito poupador de proteína, então com a redução dos carboidratos na dieta ocorre um aumento da degradação proteica. Então, ao contrário do que muita gente pensa, a necessidade de proteínas em uma dieta para ganho de massa muscular é menor.
Um hormônio que sofre bastante influência dos níveis de proteína na dieta é o IGF-1. A restrição proteica diminui a concentração de insulina e IGF-1 no sangue, com consequente aumento dos receptores celulares e de proteínas transportadoras no músculo esquelético, fenômeno que não ocorre no fígado. Perante a ingestão de dietas hiperproteicas, há um aumento do IGF-1 no plasma, porém sem alterações em receptores e proteínas transportadoras [9]. Dessa forma níveis elevados de IGF-1 pelo aumento das proteínas na dieta não refletem necessariamente maior atividade anabólica. Estudos mostraram que mesmo com níveis dobrados de IGF-1 pelo uso de GH, sem adição de outros hormônios, os ganhos de massa muscular e força não são significativos em atletas [10].
O consumo de proteínas na dieta deve ser ajustado de acordo com as condições dietéticas e físicas do indivíduo, principalmente se tratando de fisiculturistas, que atingem percentuais de gordura muito baixos. O uso de hormônios anabólicos (esteroides androgênicos, GH, insulina) também aumenta a eficiência do metabolismo proteico, aumentando a síntese e diminuindo a degradação proteica, portanto não justifica uma elevação tão grande na quantidade de proteínas na dieta de fisiculturistas hormonizados em relação a fisiculturistas naturais, embora a demanda proteica possa aumentar razoavelmente devido a síntese de proteínas estar elevada.
abraços, dudu haluch
[1] Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte, 2ª edição.
[2] Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Atividade Física, Julio Tirapegui, 2ª edição
[3] The effects of consuming a high protein diet (4.4 g/kg/d) on body composition in resistance-trained individuals. Jose Antônio et al. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2014, 11:19 doi:10.1186/1550-2783-11-19
[4] Bioquímica, Harvey & Ferrier, 5ª edição.
[5] Nutrição e Metabolismo Aplicados à Atividade Motora, 2ª edição.
[6] Dietary protein for athletes: from requirements to optimum adaptation. Phillips SM1, Van Loon LJ. J Sports Sci. 2011;29 Suppl 1:S29-38. doi: 10.1080/02640414.2011.619204.
[7] A systematic review of dietary protein during caloric restriction in resistance trained lean athletes: a case for higher intakes. Helms ER et al. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2014 Apr;24(2):127-38. doi: 10.1123/ijsnem.2013-0054. Epub 2013 Oct 2.
[8] Evidence-based recommendations for natural bodybuilding contest preparation: nutrition and supplementation
Eric R Helms et al. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2014, 11:20 doi:10.1186/1550-2783-11-20
[9] Nutrição Fundamentos e Aspectos Atuais, Julio Tirapegui, 3ª edição.
[10] GH e o poder da SINERGIA (DUDU)
Growth hormone and body composition in athletes. Frisch H. J Endocrinol Invest. 1999;22(5 Suppl):106-9.