A secreção de GH pela hipófise é modulada pelo hormônio liberador de hormônio do crescimento (GHRH, secretado no hipotálamo), pela somatostatina (inibe a secreção de GH) e pela ghrelina (secretada pelo hipotálamo e principalmente no estômago) [1]. GHRPs são hormônios peptídeos que promovem a liberação de GH por um mecanismo diferente do GHRH, através do receptor de ghrelina.
Os primeiros GHRPs (também chamados GHS, secretagogos de GH) foram obtidos em meados dos anos 70, antes mesmo da descoberta do GHRH. O GHRP-6 foi o primeiro desses peptídeos (secretagogos de GH) capaz de demonstrar potente ação libertadora de GH tanto ‘in vitro' como ‘in vivo'. Outros peptídeos com mecanismos de ação semelhantes ao GHRP-6, mas com potência diferenciada, são GHRP-1, GHRP-2, hexarelina, ipamorelina.
Também existem análogos de GHRPs de natureza não peptídica, como o MK-0677, que tem a vantagem de ter uma biodisponibilidade ao redor de 60%, quando administrado por via oral, enquanto esse valor para os análogos peptídicos gira ao redor de 1% [2].
Aumento na liberação de GH
Os GHRPs promovem aumento potente, dose-dependente, na liberação de GH. Podem ser administrados por via endovenosa, oral, subcutânea ou intranasal. Os efeitos colaterais observados após a administração são leves e de curta duração, e os mais comumente vistos são a sudorese e o rubor facial.
A ação desses agentes não é específica, pois além do aumento na liberação de GH os GHS promovem também elevação dos níveis séricos de ACTH, cortisol, prolactina e aldosterona, discreta elevação da glicemia e queda nos níveis de insulina [2, 3]. Caracteristicamente, os níveis de GH começam a aumentar em 15 min, atingem um pico em 60 min e voltam para concentrações basais após 180 min [4].
Efeito do GHRP e variações
“O efeito do GHRP é reproduzível e é submetido a dessensibilização parcial, mais durante a infusão contínua, menos durante a administração intermitente: de fato, a administração prolongada de GHRP aumenta os níveis de IGF-1, tanto em animais como em seres humanos. O efeito liberador de GH dos GHRPs não depende do sexo, mas sofre variações relacionadas à idade.
Ele aumenta desde o nascimento até a puberdade, persiste a um nível semelhante na vida adulta e diminui depois. Na sexta década de vida, a atividade de GHRP é reduzida, mas ainda é marcado e maior do que a do GHRH.
A atividade libertadora de GH de GHRP é sinérgica com o de GHRH, não é afetada por antagonistas de receptores de opióides, tais como a naloxona, e só é atenuada por influências inibidoras, incluindo neurotransmissores, glicose, ácidos graxos livres, glicocorticóides, GH humano recombinante e ainda somatostatina exógena, que são conhecidos por quase suprimir o efeito de GHRH.
Efeito liberador de GH
GHRPs mantém seu efeito liberador de GH no somatotrofo (células da hipófise que produzem GH) em estados de hipersecreção, como na acromegalia, anorexia nervosa e hipertireoidismo. Por outro lado, a sua boa atividade libertadora de GH foi mostrado em alguns, mas não em outros estados hiposecretórios somatotróficos.
Na verdade, reduzidas respostas de GH após a administração de GHRP foram relatados em deficiência de GH idiopática, bem como na estatura baixa idiopática, na obesidade e em hipotiroidismo, enquanto que em pacientes com desconexão pituitária talo ou síndrome de Cushing, a capacidade de resposta do somatotrofo ao GHRP é praticamente ausente.
Efeito em crianças
Em crianças também tem sido relatado um aumento na velocidade de crescimento durante o tratamento crônico GHRP. Assim, com base em seus devidos efeitos liberadores de GH mesmo após a administração oral, GHRPs oferecem sua própria utilidade clínica para o tratamento de alguns estados hiposecretores de GH [5].”
O melhor uso de GHRPs para atletas é em combinação com um análogo de GHRH, devido ao efeito sinérgico dessa combinação na liberação de GH. O GHRP e o GHRH atuam em receptores distintos nos somatotrofos hipofisários, através de vias de sinalização intracelulares distintas, e também em diferentes subpopulações de somatotrofos [2]. Quando combina GHRH com o GHRP-6, só precisa de metade ou de um terço da mesma quantidade de GHRP-6 para obter o mesmo nível de aumento na produção de GH.
Análogos de GHRH
Os análogos de GHRH comumente utilizados em combinação com GHRP são CJC-1295 (CJC-1295 com DAC) e o Mod GRF 1-29 (CJC-1295 sem DAC). Estes dois produtos diferem na sua duração de ação. O Mod GRF 1-29 tem uma duração de ação curta aproximadamente ideal (meia-vida ~ 30min), o que permite uma libertação pulsátil de GH, ao passo que o CJC-1295 tem uma duração de ação longa que impede esse tipo de liberação [6].
O efeito sinérgico com GHRP é superior quando combinado com Mod GRF, pois esse peptídeo produz picos maiores que o CJC-1295, que por outro lado mantém níveis sanguíneos mais estáveis por longo tempo, podendo ser aplicado apenas 2x na semana, enquanto Mod GRF exige aplicações frequentes [7]. Mod GRF pode ser aplicado em conjunto com um GHRP, e os melhores horários são antes de dormir, antes do treino (potencializando a secreção de GH estimulada pelo exercício), ou ~30 minutos antes das refeições, com níveis de glicose baixos no sangue.
Pós-treino
Você também pode usar logo após o treino, já que os níveis de GH se mantém elevados, desde que espere um tempo antes de comer. Diferente do GH recombinate, não aconselho o uso de análogos de GHRH ou GHRP em jejum, pois níveis de cortisol endógeno elevados (6-10horas da manhã) afeta ambas as vias de liberação de GH.
Algumas das substâncias que atuam via estimulação da liberação da somatostatina hipotalâmica atenuam a resposta do GH ao GHRP-6 e abolem a resposta do GHRH, são atropina, pirenzepina e agonistas beta 2-adrenérgicos (clembuterol, salbutamol) [2].
SERM's e redução de IGF-1
SERMs como tamoxifeno e clomifeno são conhecidos por reduzir níveis de IGF-1, pois diminuem a resposta do GH ao GHRH [8], e portanto devem ser evitados em conjunto com análogos de GHRH e até mesmo GHRPs. A liberação de GH por GHRP-6 é aumentada pela piridostigmina e pela hipoglicemia [2].
Além dos efeitos já citados de aumento do GH e do IGF-1, GHRP-6 e GHRP-2 aumentam o apetite (assim como a ghrelina) [9], embora hexarelina e ipamorelina não façam o mesmo [10]. Em ordem de potência para liberar GH hexarelina é o mais potente, podendo também elevar prolactina e cortisol, no entanto, a administração hexarelina irá levar rapidamente a dessensibilização, quando utilizado em doses eficazes, o que faz com que seja menos do que ideal para o uso a longo prazo [11, 12].
“Em estudos em que a hexarelina foi injetada por via subcutânea, hormônio do crescimento medido pela concentração plasmática, teve um aumento significativo no prazo de trinta minutos após a injeção. Os níveis de GH diminuiu de volta ao normal cerca de quatro horas após a injeção. O aumento de GH, foi encontrada para ser eficaz até 2 mg / kg, além disso qualquer aumento adicional da dose foi ineficaz em provocar uma resposta de GH” [10].
GHRP-2 e GHRP-6
Em seguida, em ordem de potência para liberar GH, vem o GHRP-2, que tem a vantagem de não causar dessensibilização, e provoca um menor aumento de apetite que o GHRP-6, mas pode elevar prolactina e cortisol como hexarelina [13]. GHRP-6 e ipamorelina tem uma potência semelhante na liberação de GH, menor que hexarelina e GHRP-2, e o GHRP-6 ainda é um poderoso estimulador do apetite, e pode provocar elevações na prolactina e no cortisol, o que não acontece com ipamorelina mesmo em doses mais elevadas. A vantagem é que ipamorelina pode ser em doses maiores que GHRP-6 por mais tempo.
“Uma vez que alguns GHRPs são tão eficazes quanto outros no aumento da GH, mas diferem nos efeitos sobre o apetite ou sobre a estimulação da ACTH, parece provável que existam diferenças nos recetores da grelina entre os diferentes tecidos, ou diferenças no seu funcionamento (por exemplo, com co-factores). Esta é talvez a explicação mais provável para o fato do GHRP-6 ser eficaz na estimulação do apetite e na recuperação de tendinites, ao passo que a GHRP-2 estimula menos o apetite e tem menos potencial cicatrizante [9].”
abraços, Dudu Haluch.
[1] Fisiologia Médica, Ganong, 22ª edição.
[2] Fisiologia e Fisiopatologia do Hormônio do Crescimento, B. Liberman & A. Cukiert.
[3] Ghrelina e secretagogos do hormônio de crescimento (GHS): modulação da secreção do hormônio de crescimento e perspectivas terapêuticas; Silvia R. Correa-Silva; Larissa Bianca Paiva Cunha de Sá; Ana-Maria J. Lengyel; Arq Bras Endocrinol Metab vol.52 no.5 São Paulo July 2008.
[4] Growth hormone-releasing peptides: clinical and basic aspects.
Argente J, García-Segura LM, Pozo J, Chowen JA. Horm Res. 1996;46(4-5):155-9.
[5] Growth hormone-releasing peptides.
Ghigo E, Arvat E, Muccioli G, Camanni F. Eur J Endocrinol. 1997 May;136(5):445-60.
Growth hormone-releasing peptides and their analogs.
Camanni F, Ghigo E, Arvat E. Front Neuroendocrinol. 1998 Jan;19(1):47-72.
[6] CJC-1295, by Bill Roberts
[7] Mod GRF 1-29 Peptide Profile, Bill Roberts
[8] Effect of tamoxifen on GH and IGF-1 serum level in stage I-II breast cancer patients.
Mandalà M, Moro C, Ferretti G, Calabro MG, Nolè F, Rocca A, Munzone E, Castro A, Curigliano G. Anticancer Res. 2001 Jan-Feb;21(1B):585-8.
[9] Growth hormone releasing peptide-2 (GHRP-2), like ghrelin, increases food intake in healthy men.
Laferrère B, Abraham C, Russell CD, Bowers CY. J Clin Endocrinol Metab. 2005 Feb;90(2):611-4.
GHRP-6, by Bill Roberts
[10] Hexarelin, thinksteroids.
Imbimbo, B.P., et. al Growth hormone-releasing activity of hexarelin in humans. A dose-response study.Eur J Clin Pharmacol. 1994;46(5):421-5.
Imbimbo, B.P., et. al Growth hormone-releasing activity of hexarelin in humans. A dose-response study.Eur J Clin Pharmacol. 1994;46(5):421-5.
[11] HOW IT WORKS: GROWTH HORMONE PEPTIDE FAMILY. Written by Bryan Hildebrand
[12] Does desensitization to hexarelin occur?
Rahim A, Shalet SM. Growth Horm IGF Res. 1998 Apr;8 Suppl B:141-3.
[13] Effects of GHRP-2 and hexarelin, two synthetic GH-releasing peptides, on GH, prolactin, ACTH and cortisol levels in man. Comparison with the effects of GHRH, TRH and hCRH.
Arvat E, di Vito L, Maccagno B, Broglio F, Boghen MF, Deghenghi R, Camanni F, Ghigo E. Peptides. 1997;18(6):885-91.