Grandes equívocos sobre o uso da vitamina C no esporte e no fisiculturismo (por Matheus C. Silvestre)

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Artigo escrito por Matheus Crippa Silvestre (@matheuscsilvestre)

A vitamina C é uma das vitaminas mais conhecidas, estudas e usadas pelas pessoas tendo em vista o seu potencial antioxidante. Antes de falar sobre seu uso no esporte é bom conhecermos o seu metabolismo para assim entender suas funções.

Ao atuar como antioxidante neutralizando um radical livre, o ácido ascórbico dá origem ao radical ascorbil e posteriormente ao deidroascorbato (DHA). O deidroascorbato por sua vez pode sofrer a ação da glutationa e do NADPH e voltar a ser ácido ascórbico. Quando há um rompimento do anel, o deidroascorbato pode dar origem ao 2,3-dicetogulônico e posteriormente ao ácido oxálico, o qual será excretado.

Tendo em vista a formação de oxalato derivada do catabolismo da vitamina C, muito se fala sobre o possível risco de cálculos renais que a mesma traria em altas doses. Todavia, tal associação não é totalmente confirmada pelos artigos. Estudos com pessoas saudáveis mostram não haver problemas renais mesmo com a utilização de mega doses de vitamina C.



Entretanto, existem alguns trabalhos feitos com pessoas já predispostas a formação de cálculos renais ou em hemodiálise que mostram associação de vitamina C e problemas renais. De qualquer maneira, não tem lógica utilizar mega doses de vitamina C, com exceção talvez de pessoas com câncer onde o efeito pró-oxidante é desejado. Sendo assim, não há porque se preocupar muito com isso.

A sua absorção será feita tanto pelo sistema transportador dependente de sódio (ascorbato), quanto pelo GLUT (DHA). A vitamina C é um cofator importante para o metabolismo da tirosina, para a síntese de colágeno e carnitina, de norepinefrina e alguns hormônios peptídeos, além de aumentar a absorção de ferro no trato gastrointestinal. A hidroxilação de prolina para hidroxiprolina e de lisina para hidroxilisina também depende de vitamina C.

O ascorbato protege o DNA contra oxidação, inibi a peroxidação lipídica, diminui a oxidação de LDL e melhora a função endotelial, apesar dos estudos serem divergentes em alguns quesitos. A vitamina C também interage com a vitamina E restaurando –a e gerando tocoferol.



No esporte a utilização de altas doses de vitamina C é extremamente comum. Dentre os possíveis benefícios são citados a diminuição de cortisol, melhora da recuperação e diminuição da dor muscular tardia, e ainda um possível efeito diurético. Porém, ao nos depararmos com a literatura, os resultados já são menos promissores.

Petersen et al. mostraram em seu estudo que indivíduos suplementados com 500 mg de vit C e 400 mg de vit E, não demonstraram proteção antioxidante das células do sistema imune em comparação com o grupo placebo que ingeriu malto. Mastaloudis et al. suplementaram 22 corredores por 6 semanas com 1000 mg de vit C e 300 mg de alfa-tocoferol. Ao compararem LDH, CK e a ação muscular máxima, não encontraram diferenças entre o grupo suplementado e o placebo.

Krause R et al. utilizaram 2 gramas de vitamina C durante uma semana em atletas, a fim de analisar o número de neutrófilos e a produção de EROs após a realização de exercício de alta intensidade. Ao final do estudo, os autores não viram diferenças no grupo suplementado em comparação com o placebo.
Nieman et al. verificaram o efeito da utilização de 1000 mg de vitamina C durante 8 dias sobre as concentrações de cortisol, catecolaminas, produção de EROs, dentre outros parâmetros imunológicos. Em comparação com o grupo placebo, o grupo suplementado não apresentou nenhuma diferença nos parâmetros citados, após uma sessão de exercício intenso com duração de 2,5 horas.



Em contraponto, Peters et al. mostrou que, embora transitório, os hormônios adrenais e polipeptídios anti-inflamatórios foram atenuados nas respostas inflamatórias em corredores suplementados com 1500 mg de vit C por dia, em comparação aos que ingeriram 500 mg ou placebo.
Bryer e Goldfarb também mostraram efeitos positivos na utilização de 3g/dia, durante 18 dias, com relação a redução da dor muscular, prevenção do estresse oxidativo e atraso da elevação de CK.

O seu efeito como diurético é muito propagado por alguns fisiculturistas, sendo que muitos utilizam altas doses alguns dias antes da competição com intuito de diminuir a retenção.
A literatura nesse quesito é bem vaga, porém Abbasy MA (1937), Kenawy MR et al.( 1952) , Björn P Bark and Per-Olof Grände ( 2014) e Carl F. Shaffer (1944) , mostram em alguns estudos conduzidos com animais e humanos que a vitamina C em altas dosagens realmente pode exercer tal efeito.
Além disso, alguns nutricionistas consagrados como Chris Acetto, também fazem o uso.

Como pôde se ter noção, a literatura sobre vitamina C é bem extensa e muitas vezes contraditória. Apesar de realmente existirem alguns estudos que mostram um pequeno benefício decorrente da sua utilização em altas doses, a grande maioria apresenta resultados negativos.



Além disso, em altas doses, a vitamina C pode possuir efeito pró-oxidante, diminuir a biodisponibilidade de minerais como cobre e causar diarreia. Sua utilização em excesso também tem mostrado ocasionar fadiga precoce durante o exercício prolongado e diminuir as adaptações metabólicas ocasionadas pelo treinamento.

Analisando toda a literatura sobre vitamina C fica claro que a utilização de altas doses não só não trará benefícios à pratica esportiva, como também poderá prejudicar. Sendo assim, não há necessidade de ficar tomando 500 mg de vit C várias vezes ao dia.

Na realidade, a utilização na faixa de 95 a 520 mg/dia já parece ser o suficiente para praticantes de atividade física. Ao invés de gastar seu dinheiro tomando 3 gramas de vitamina C por dia, tome um suco de acerola, coma alguns morangos, mamão, pimentão, goiaba que com certeza você já vai alcançar a quantidade de vit C necessária.



Artigo escrito por Matheus Crippa Silvestre

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